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Cultura 
O poder de minar preconceitos
Por: José Carlos Silva
Fotos: Thiago Motta (fotos de Danusa Meio Mundo) / José Carlos Silva
Maquiagem: Thamy La Close (Danusa Meio Mundo)
Cabelo: Dejair (Danusa Meio Mundo)


A criatividade sempre esteve ao lado da arte. Na verdade, a criatividade é o principal ingrediente para qualquer produção, principalmente no mundo LGBT onde há total escassez de patrocinadores, o dinheiro é curto e o preconceito é latente, apesar de todos os avanços. O legal é que ainda temos artistas que não têm medo de colocar literalmente a cara à tapa e investem seus parcos reais em produções diferenciadas e surpreendentes. Nem sempre o resultado é satisfatório. Mas a coragem deles deve ser reverenciada. É preciso combater as mentes elitizadas e retrógradas que andam por aí e insistem em separar a cidade em zonas e guetos. A cultura pode estar em qualquer lugar: da zona sul ao subúrbio, do teatro municipal à sauna gay, há muitos espaços para a criação artística.    É preciso não ter medo de inventar e sair da mesmice. Sair da zona de conforto é difícil, às vezes até dói, mas é um movimento necessário. Só assim nosso segmento deixará de ser apenas um mercado exótico e periférico para passar a ser respeitado e valorizado como um centro de efervescência cultural. O que vemos diariamente em boates e festas são eventos limitados que poderiam ganhar ares de super produção. As saunas, até pouco tempo ambientes estigmatizados, através de bons diretores, investiram na cultura associada ao entretenimento. O resultado cada vez mais atrai o público diferenciado.  Hoje podemos conferir verdadeiras produções dignas de qualquer palco tradicional de teatro. São os chamados off Broadway.

Com algum investimento e boa vontade, aliado ao talento dos artistas, é claro, é possível fazer produções que valorizam o mercado LGBT, descaracterizando-o de um gueto. Nesta edição destacamos algumas pessoas que atuam e lutam diariamente pela qualidade do que é oferecido ao público. Temos Samara Rios com o seu programa; Karina Karão sempre produzindo belos espetáculos; Sara Stivens lançando “Nossas Priscilas”; Almir França produzindo cultura no seu Teatro de Bolsa e a boate Buraco da Lacraia investindo no teatro popular. Viva a cultura e seu poder de minar preconceitos, mesmices e velhas crenças!

Para valorizar este momento especial das produções LGBT cariocas, realizamos um ensaio com uma figura que se encaixa perfeitamente no quesito grande produção: Danusa Meio Mundo. Luxo e elegância fazem parte desse personagem que nos remete às famosas e verdadeiras drags criadas nos anos 80 e que foram descaracterizadas com o passar do tempo. Danusa traz essa simbologia que não morreu. Muito pelo contrário: está pronta para florescer.

Buraco também é cultura
Ao ser convidado para assistir à peça “Buraco da Lacraia Dance Show”, que está sendo apresentada todas as sextas na boate Buraco da Lacraia, pensei: estou embarcando numa furada. Reunir comédia, teatro e videokê é um prato cheio para uma noite desastrosa. Encontrando o local com lotação esgotada, resolvi despir-me de todo preconceito em relação àquele aparelho que maltrata ouvidos de muita gente. E não é que deu certo! A peça “Buraco da Lacraia Dance Show” é um ótimo divertimento para começar a noite. O elenco é super entrosado e está visível que os atores tiveram uma ótima sacada em relação ao espaço, sabendo aproveitar tudo o que local oferece. 

Amadorismo passa longe. Os atores são dirigidos por Fernando Philbert, que participou da co-direção da elogiada peça “Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade”. Ao total, são cinco atores que se revezam em vinte músicas. O tempo de duração da peça, aproximadamente 1h, acaba se tornando pouco devido às boas risadas que o elenco consegue proporcionar ao público. O riso é garantido mesmo! A montagem não conta com nenhum tipo de patrocínio e a boate resolveu apostar no projeto que, devido ao sucesso, entra na sua terceira temporada. A peça estava prevista somente para o mês de maio, mas, pelo visto, vai ter vida longa. 

As músicas apresentadas, todas de conhecimento do público, fazem com que o entrosamento seja ainda maior. No elenco, todos têm seus momentos solos. Nenhum dos atores fica a desejar. Pelo contrário: todos mostram que é possível fazer de uma brincadeira um grande espetáculo. Para quem curtiu os famosos “besterois” da década de 80, é uma boa oportunidade de fazer um revival. Quem não conheceu, vá correndo, pois o riso é certeiro.

Buraco
O Buraco da Lacraia merece todos os nossos aplausos por fazer do seu espaço um local não só de boate. Trouxe cultura para suas instalações. Essa iniciativa deveria ser seguida por outros estabelecimentos. Quem ganha é o público. Outra boa vantagem: a entrada da peça, que começa às 22h30, dá direito a poder aproveitar as batidas eletrônicas, soltar a voz no videokê e beber à vontade no já tradicional festival de bebida liberada. Refrescando a memória: foi Adão, o proprietário do Buraco, quem lançou no Rio o festival de bebida liberada, hoje febre nas principais capitais brasileiras.

Fique de olho:
Buraco da Lacraia Dance Show Com Patricia Pinho, Luis Lobianco, Letícia Guimarães e Sidnei Oliveira – Supervisão Fernando Philbert.
Ingresso do show R$ 10 – Combo a R$ 25 para quem quiser ver o show e depois emendar a noitada na boate.
Buraco da Lacraia – Rua André Cavalcanti 38 – Centro – Tels. 2242-0446 – 2224-8880 – Abre às sextas e sábados. www.buracodalacraia.com

No Close com Samara Rios
Samara Rios tem estrada e já tem seu público cativo. A artista sempre esteve à frente de grandes produções e o que não falta é criatividade. Monta roteiros, especiais, quadros diferenciados, monta adaptações de programas de televisão para os palcos das boates e o melhor: sempre com sucesso. Samara parte para mais uma empreitada em que mostra que o artista pode ir além quando quer mostrar realmente seu trabalho. “No Close” é um programa que vai ao ar na Internet, mas que tem todo o tempero para poder estrelar nas grades de programações da TV aberta. O programa é todo certinho: cenário bem bolado, entrevistas com artistas, curiosidades e muita diversão. Vale a pena conhecer um pouco mais do trabalho dessa artista que conquistou o prêmio da Revista S! como melhor apresentadora. 

Quanto tempo tem o programa?
O primeiro programa “No Close” foi ao ar no dia 11 de março de 2011 e era apenas de entrevistas. Não tinha nenhum cenário. Hoje contamos com outra estrutura. A gravação é realizada na Boate Papa G e conseguimos montar um cenário fixo com a ajuda do cenógrafo Márcio Morcineck. Essa nova estrutura já entra no seu terceiro mês. 

Como surgiu a ideia?
Sempre gostei de televisão. Sonho com esse projeto há muitos anos. Junto com o meu amigo e diretor do programa Rafael Ramos, criamos este programa que recebe os artistas que se destacaram na noite e na mídia. Tudo rola com muito humor. 

Qual a proposta do programa?
Levar alegria e informação para todos que curtem o meu trabalho. E também provar para todos que os artistas transformistas têm talento que vão além. Não é preciso colocar um homem vestido de mulher para fazer graça na TV. Temos ótimos profissionais prontos para esse cargo. 

Como é feito o programa?
O programa tem uma base a seguir. Mas, tudo o que é falado é puro improviso. Acho que por isso que está sendo um diferencial.

O investimento
No primeiro programa eu investi, pois tudo era novo. Só de cenário foram gastos cerca de R$ 1.500 que tinham a finalidade de deixar com uma cara de profissional. Na segunda gravação, comprei a ‘Jussara’, que é uma grua que eleva a câmera a quatro metros do chão.

Como é montar esse programa
Loucura total! Todo programa é montado uma semana antes da gravação que acontece normalmente no primeiro domingo de cada mês. Como é um programa vinculando na Internet fica muito difícil conseguir atrações para irem se apresentar. Dessa forma temos, em princípio, que contar com os amigos. No dia da gravação, eu, Marcio Morcineck, Rafael Ramos e Priscila Nascimento chegamos na Boate Papa G às 10h para montar o cenário do programa. Contamos com os profissionais de primeira linha para fazer a técnica do programa. Na captura do áudio tenho a ajuda do Cristiano Gomes e na luz, Beto Vogue. A plateia chega entre 16h e 17h e é recebida pelas produtoras Monique Cruz e Cinthya Ramos que recebem também os convidados. Às 18h30 damos início à gravação do programa. Ao fim de tudo, temos que desmontar para que a boate possa funcionar normalmente.

O que você espera de retorno do programa?
Eu gostaria muito que os empresários me ajudassem a levar este programa para a televisão, mesmo que fosse em uma TV fechada.  Nossa, como vejo tanta coisa ruim por aí. Não quero dizer que o meu programa “No Close” seja perfeito e sei que falta para isso, porém seria uma inovação na televisão brasileira.

Recebeu algum apoio para poder fazer e manter o programa?
Uma grande parceira neste projeto é a Boate Papa G que sempre está disposta a abrir suas portas para o programa. Cede toda a estrutura que a casa oferece. Não posso esquecer-me da Boate Malagueta Point, em Bangu que até hoje me ajuda com uma quantia na realização de todos os programas. Eu gostaria muito de ter mais parceiros, mas como falei antes, os empresários não apóiam. Posso garantir uma coisa: o programa “No Close” vai estar no ar com a participação ou não de empresários.

Equipe
Apresentadora – Samara Rios/ Diretor - Rafael Ramos/ Coordenação de Direção - Priscila Nascimento/ Assistente de Direção - Orlando Filho/ Cenografia - Marcio Morcineck / Som - Cristiano Gomes/ Luz - Beto Vogue/ Produção - Monique Cruz
Cinthya Ramos, Gleison Cavalera e Jorge Gervazoni/ Cantora - Jaqueline Ushoa/ Dançarinos - Grupo Four.


As Nossas Priscilas
Estreia: 26 de julho
Uma simples ideia pode acabar se transformando numa grande produção. Pelo menos para Sara Stivens que não brinca em serviço. Suas realizações no palco são dignas das casas de shows. Ela não tem medo de investir na qualidade das suas apresentações. O resultado final é sempre com saldo positivo. Já são esperados bons eventos quando o nome de Sara está no elenco e ela parte para mais uma super produção. Dessa vez, “As Nossas Priscilas” que tem sua estreia no dia 26 de julho, no Tijuca Tênis Club e segue adiante em outros teatros da cidades.  É um investimento alto que reúne um grande elenco com destaque para Dianely Braga e Felipe Limonge, além da atuação de um corpo de balé. Para dar vida a “As Nossas Priscilas”, Sara convidou Alexandre Azevedo para roteirizar e dirigir o espetáculo que ainda tem a cenografia das experientes Bruna Bee e Lara Brigdman. Sara Stivens está com os nervos à flor da pele devido ao alto investimento e à ousadia da produção que pode contar com o apoio de algumas empresas como Babado da Folia, Univercentro Som, Spinnelli Studio de Dança, Bar do Hélio, Belissima & Sexy. Sara Stivens está ciente das dificuldades em colocar o espetáculo num palco, porém o medo não abala suas estruturas. Os exaustivos ensaios vão ganhando forma e o que se pode ver é que “As Nossas Priscilas” tem tudo para conquistar o público e fazer carreira. Bem, produção e a garra de todo elenco não faltam. 
Fique de olho:
As Nossas Priscilas – Tijuca Tênis Club – Teatro Henriqueta Brieba – Rua Conde de Bonfim 451 – Informações: Tels. 3294-9300 – Estreia: dia 26 de julho – Horário: 21h.

Karina Karão
Um colorido a mais nas saunas e boates
Karina Karão, desde que começou a despontar no cenário LGBT, já mostrava que queria fazer a diferença. E fez! Da sua caixinha de criatividade saíram bons espetáculos como a brilhante “A casa da luz vermelha”, “Ritmo Quente” e “Hair Spray”. Ela reuniu seu elenco e com a verba adquirida estrelou nos palcos das saunas e das boates arrebatando o público que não cansava de aplaudir cada performance em cena. Os desafios não param. Já está em plena ebulição para a produção da mais um espetáculo. Ela ensaia, bola figurinos, monta e desmonta elenco e dá para ver ao final de cada apresentação o esforço dessa artista, que pelo menos tenta dar uma nova concepção aos shows cariocas exibidos nos segmentos LGBT.

Uma bolsa como teatro
São poucos que se aventuram a promover arte na cidade, principalmente fazer de uma sala um local para o artista brilhar. Essa engenharia foi idealizada pelo estilista Almir França que fez de seu empório um centro cultural. Lá, aos sábados, brilha a estrela da noite LGBT carioca, Lorna Washington. E como sempre irreverente, após o espetáculo é servido um jantar. Isso mesmo. O que faz com que o público se sinta em casa. Lorna se despe de seu personagem e conversa animadamente com os presentes. Tudo regado com boa música. No ar, o cheiro de cultura se mistura com o bom bate papo.  Imperdível! Em tempo: essa nova concepção que Almir criou aos sábados tem nome: “Qualquer Coisa”.
Fique de olho:
Empório Almir França: Travessa Dr. Araújo 55 – Praça da Bandeira – Tel. 2293-6428 – Todos os sábados – Horário: a partir das 19h30.

Luiza Gasparelly
Criatividade e Talento
Luiza Gasparelly é outra artista que está sempre querendo mais em suas produções. Conseguiu levar para os palcos das saunas verdadeiros espetáculos com bom roteiro, figurino, iluminação e elenco de peso que podre mostrar que a arte vai além de uma simples dublagem. Considerada estressada, frenética, Luiza tem tudo isso. Mas ao fim de cada apresentação é possível ver o riso de satisfação por parte de todos os presentes. Para ela, o luxo no palco está acima de tudo. E mesmo com poucos recursos, ela consegue transformar usando a criatividade e o talento.

Simplesmente Danusa
Danusa Meio Mundo, no meio de tantas produções citadas nessa matéria, representa o glamour, a elegância, o bom gosto por uma boa roupa e uma impecável maquiagem. Traços marcantes das tradicionais “drag queens” que explodiram nos anos 1980 e perduram desde então. Esse estilo adotado por Danusa está de volta, repaginado. Ela não é de shows e nem tampouco usa o microfone como apresentadora. Ela é simplesmente Danusa. Por onde passa deixa a sua marca e nessa edição da Revista S! ela representa o puro glamour de uma boa produção.











4 comentários:

  1. Sem Comentários!!! Tudo Nota 1000, para toda equipe da Revista S. *Boas Festas*

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  2. Rogéria é verdadeiramente um nome de conquistas. Venceu todas as batalhas que a vida lhe reservou, por isso é sem dúvida o grande ícone do nosso "Mundo Gay"... A ela, todas as nossas homenagens.

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  3. Pessoal,

    O que temos depois do Carnaval? Qual a programação.

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